Em
1844, na gruta do Sumidouro, próxima de Lagoa Santa, MG, o cientista
dinamarquês Peter Wilhelm Lund encontrou fósseis de homens pré-históricos. O
próprio Lund, assim, relatou sua extraordinária descoberta:
“Inesperadamente, depois de seis anos de
baldadas pesquisas, tive a fortuna de encontrar os primeiros restos de
indivíduos da espécie humana ------- Achei esses restos humanos em uma caverna
que continha, misturados com eles, ossos de vários animais de espécies
decididamente extintas”.
Havia descoberto o “Homem de Lagoa Santa”. Peter Wilhelm Lund, o pai da
Paleontologia brasileira, nasceu em Copenhague, em 1801, e faleceu em Lagoa
Santa, em 1880.
Viveu 45 anos, na cidade mineira, dedicando-se à pesquisa
científica, em um dos mais importantes sítios arqueológicos do Brasil, por ele
descoberto e ao qual deu destaque mundial.
De constituição franzina, muito
jovem ficou tuberculoso e resolveu buscar a cura da doença, com os ares dos
trópicos. Veio para o Brasil em 1825, aos 24 anos de idade, já formado em
universidade. Dedicou-se à Zoologia, pesquisando em Niterói, Rio de Janeiro e
Nova Friburgo. Em janeiro de 1829, retornou à Europa, quando manteve vários
contatos com cientistas europeus. Em janeiro de 1833, estava de volta ao
Brasil, e aqui permaneceu até sua morte.
Após longa excursão pelos Estados de
São Paulo, Goiás e Minas Gerais, chegou a Curvelo (MG), onde encontrou outro
dinamarquês, Clausen, e visitaram cavernas da região, onde descobriram enormes
quantidades de ossos de animais pré-históricos.
Chegou à Lagoa Santa, em 1835,
onde se fixou.
Em carta por ele escrita, em 1842, relata ter visitado perto de
200 cavernas e ter coletado e reconhecido, só na classe de mamíferos, 115
espécies. De todas as grutas visitadas, três ficaram mais famosas, as de
Maquiné, Lapinha e Sumidouro. As duas primeiras, hoje, estão entregues ao
turismo.
Na do Sumidouro, encontrou fósseis do homem primitivo. Segundo Mello
Alvim, presume-se que o “Homem de Lagoa Santa” viveu da caça e da coleta de
produtos silvestres. A época em que viveu foi a do Pleistoceno, variando a
conclusão dos cientistas sobre a data exata da sua existência, entre 8 e 10 mil
anos.
Há alguns anos, sobre um crânio feminino, encontrado em Lagoa Santa, foi
feita a reconstituição do rosto daquela nossa ancestral. O resultado causou
enorme surpresa, entre os paleontólogos – o rosto de “Luzia”, pertencente a
indivíduos conhecidos, genericamente, como paleoíndios, teria feição mais
parecida com a dos aborígines da Austrália ou mesmo com a dos africanos, tanto
que poderia ser chamada, a grosso modo, de "negróide". Já os índios
atuais se aproximam mais dos povos do nordeste da Ásia, daí o nome de
"mongolóide" dada à sua forma craniana.
Pois bem, recentemente, o
mistério se aprofundou. Pequenos trechos
de DNA, extraídos de esqueletos com 8 mil anos ou mais de idade, indicaram que,
à primeira vista, parece que genes e fósseis humanos estão se contradizendo.
Enquanto a forma do crânio dos antigos habitantes de Lagoa Santa sugere que
eles eram um povo muito diferente dos índios modernos, o material genético
obtido dos mesmos restos ósseos é, em sua imensa maioria, idêntico ao das
tribos que ainda existem hoje.
Os dados, intrigantes e ainda preliminares, vêm
do trabalho da geneticista Andréa Ribeiro dos Santos, pesquisadora da
Universidade Federal do Pará (UFPA) que, há anos, usa as ferramentas da
biologia molecular, para tentar entender como os seres humanos modernos chegaram
à América e se espalharam pelo continente. A pesquisadora e seus colegas têm se
dedicado à extração e análise do DNA de restos humanos antigos, que pode
revelar uma miríade de dados interessantes sobre a história das populações,
especialmente quando comparado com o material genético de povos atuais.
Recentemente,
com a ajuda do antropólogo Walter Neves, da USP, a geneticista do Pará
obteve amostras de DNA do célebre complexo arqueológico de Lagoa Santa, a 50 km de Belo
Horizonte. A região mineira é famosa por conter o mais denso registro de
restos humanos do continente americano, dos primórdios da chegada do homem por
aqui.
Imaginava-se que os habitantes antigos de Lagoa Santa, ao exibir
características negróides do crânio, deveriam ser, também, geneticamente diferentes
dos índios que vieram depois. Mas, após analisar mais de 30 amostras de DNA
antigo da região, Andréa Ribeiro dos Santos verificou a presença majoritária de
variantes genéticas aparentadas às dos indígenas modernos. Só em torno de 5%
dos indivíduos de Lagoa Santa têm sequências genéticas "atípicas",
sem ligação com os grupos atuais. Outra explicação possível é que, apesar da
forma diferente do crânio dos paleoíndios eles, na verdade, seriam ancestrais
dos índios modernos que, ao longo do tempo, teriam se tornando cada vez mais
"mongolizados" na América, mudando de feição, sem perder o elo
genético com seus ancestrais. Hipótese ou verdade científica, a descoberta da
geneticista Andréa Ribeiro dos Santos revela-nos uma novidade. Uma novidade de
10 mil anos!
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NOVO IHGMG CENTENÁRIO
BOLETIM MENSAL
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE MINAS GERAIS
Presidente 2016-2019 – Aluízio Alberto da Cruz Quintão
Editor: Fernando Antonio Xavier Brandão
Belo Horizonte, 29 de outubro de 2016 Número 02/2016
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