quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Tesouros para preservação da memória da sociedade - Gilda de Castro

Tesouros para preservação da memória da sociedade

   GILDA DE CASTRO

         Antropóloga, 

O Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG) criou, recentemente, um Centro de Documentação com cinco setores. Eles terão estreita inter-relação para maximizar os recursos materiais e as informações sobre o Estado, em suas múltiplas facetas. Fui nomeada coordenadora da Hemeroteca e estou apresentando uma proposta para organização de jornais, revistas, encartes, folhetos, banners, fotografias, postais, objetos sacros, cartas pessoais, quadros, documentos, homenagens póstumas e outros ícones que sejam indicadores do modo de vida dos mineiros, desde o final do século XVII.
Essas peças não têm, geralmente, valor comercial, mas constituem tesouros para recuperação da memória de uma sociedade, pois cada categoria encaminha uma interpretação substantiva do cotidiano, quando se faz prospecção de dados de urbanismo, arquitetura, linguagem, economia, instrumentos de trabalho, comunicação, religiosidade, artesanato, celebrações populares, educação, culinária e relações familiares.
Elas se encontram em fundos de gavetas das pessoas que apreciam guardar lembranças, mas as descartam, quando surge o desejo de esquecer o passado ou a necessidade de abrir espaço para alojar novas aquisições. Torna-se inevitável quando os proprietários morrem e os herdeiros são insensíveis ao significado que eles tiveram em outros tempos. Isso interfere na preservação do patrimônio cultural aparentemente singelo, pobre e desinteressante.
Uma hemeroteca pode mostrar, entretanto, que a reunião criteriosa de “insignificâncias” esclarece técnicas abandonadas, atitudes esquecidas, valores sociais superados e peculiaridades de comportamento de uma população.
O IHGMG está com restrito espaço físico para organizar seu Centro de Documentação, porque a biblioteca de 24 mil exemplares e a mapoteca com 900 peças ocupam um salão inteiro; por isso, a Hemeroteca ficará restrita, no início, ao arquivo virtual de fotografias, facilmente construído em computadores. Elas são documentos com alto grau de confiabilidade, porque foram expressão da verdade desde o século XIX até a criação de photoshop, que tem permitido alteração do material.
O conteúdo desse arquivo abrangerá fauna, flora, acidentes geográficos, economia, instrumentos de trabalho, edificações de diversas categorias, pessoas singulares, autoridades, celebrações religiosas e profanas, vestuário, pratos típicos, produção artística e outras situações que possam esclarecer sobre a geografia, história e política de todos os municípios de Minas Gerais. Haverá sempre uma ficha com informações sobre o local, a época, o autor e proprietário do acervo. Um código de ética regulamentará o acesso, em respeito ao direito de imagem, à privacidade das pessoas citadas, à segurança dos fotografados e ao trabalho de fotógrafos profissionais.
Ficaremos felizes com a doação de material que se enquadra nessa qualificação, ressaltando que objetos de hoje serão tesouros no futuro.

Gilda de Castro
Belo Horizonte
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Antropologia - Literatura - Minas Gerais
Artigos semanais em http://www.otempo.com.br/opiniao

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